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Para ir além da questão do desgaste e do calendário apertado, o ge listou alguns fatores e ouviu comentaristas para tentar explicar o que mudou
Texto escrito por Gustavo Garcia e Jamille Bullé do GE.com
A decisão estadual fez a torcida se animar com a sequência na temporada. Além de ter vencido com certa tranquilidade o Flamengo, um dos elencos de maior investimento do Brasil, o Tricolor viu o renascimento de Ganso no time e, de quebra, pareceu ter solucionado o problema da falta de criatividade no meio-campo. No entanto, quase um mês depois, a realidade não é tão positiva.
Fred no jogo entre Fluminense e Unión Santa Fe — Foto: André Durão
De lá para cá, a equipe caiu de produção, voltou a ter dificuldades na criação de chances reais e vem acumulando atuações ruins. Para ir além da questão do desgaste e do calendário apertado, o ge listou alguns fatores e ouviu comentaristas para tentar explicar o que mudou.
Diferença de competições
Por mais que a final tenha sido contra o Flamengo, é inegável a diferença entre disputar um Estadual e jogar competições como Brasileirão, Sul-Americana e até mesmo Copa do Brasil, já que o Tricolor acabou encarando uma equipe de Série B.
No Carioca, o time já vinha apresentando algumas dificuldades similares ao que enfrenta hoje, no entanto, os bons resultados vinham acontecendo, como destacou a comentarista Camila Carelli.
– O Fluminense conseguia vencer as partidas mesmo sem jogar bem ou sem ter muita criatividade, sem ter volume ofensivo, criando muito pouco, como tem sido agora. Só que o resultado vinha, e isso acaba mascarando de alguma forma as atuações. Nas finais, especificamente, do Carioca, quando o Fluminense jogou bem, mas foi uma coisa específica de um jogo.
– É uma estratégia pra ser competitivo em duas partidas, porque são finais, mata-mata. Dentro do elenco do Fluminense hoje, o Abel consegue que o time seja competitivo em uma partida específica – disse Camila
Desequilíbrio no elenco
Com um elenco formado por veteranos e jovens, a falta do meio termo acaba trazendo dificuldades para a equipe. Para o comentarista PVC, não há um equilíbrio no grupo, e as oscilações do time vão acontecer ao longo da temporada.
– A soma dos veteranos, quando você tem Ganso, Cano e não tem um elenco tão numeroso, o desgaste vai fazer parte disso, e o fato é que no Brasil não tem um time jogando toda partida bem, talvez o Palmeiras um pouco mais. É necessário entender que o Fluminense também vai oscilar. É preciso projetar um Fluminense pros próximos anos de elenco mais coeso, mais equilibrado.
– Neste ano, Fluminense conquistou algo, foi campeão depois de 10 anos. Não é suficiente, é preciso descobrir ainda o que é que está dando errado, e talvez seja na capacidade de colocar jogadores mais jovens, como André, fazer Luiz Henrique voltar a jogar bem, mesclar André e Yago Felipe para dar mais força ao meio-campo e depender um pouco menos dos jogadores mais experientes – destacou PVC.
Time pouco agressivo
Nas últimas partidas, o Fluminense até teve mais posse de bola, mas encarou sérias dificuldades em chegar com perigo e agredir o adversário. A comentarista Renata Mendonça aponta a falta de agressividade da equipe no campo de ataque como um dos fatores que vem complicando a vida dos tricolores nos últimos jogos.
– Uma coisa que fica evidente é a dificuldade pra fazer gols. Nos três jogos do Brasileiro, o Fluminense não marcou (só venceu um deles por um gol contra). Em dois dos três da Sul-Americana também não fez gol. E não é porque não tem sido eficiente nas chances que cria, mas sim porque não consegue ser agressivo quando tem a bola, ter infiltrações, trabalhar bem pelos lados – disse Renata.
As laterais
Defensor do esquema com três zagueiros, o técnico Abel Braga apostou em formações com alas, o que implica em uma maior necessidade de criação de jogadas pelos lados. Os testes com Marlon, Cris Silva e Pineida, pela esquerda, e Samuel Xavier, Calegari e Caio Paulista, pela direita, mostram que ainda não há uma solução para a questão.
Variações no time
O desgaste físico que acontece por conta do calendário recheado de jogos acaba obrigando o técnico Abel Braga a ter uma maior rotatividade no time titular. Apesar da necessidade dessa variação, Renata Mendonça acredita que o time já lidasse melhor com as mudanças a essa altura da temporada.
– O Abel varia bastante a escalação. Ele troca o esquema, troca as peças, poupa jogadores, o que é normal. Mas, nesse momento da temporada, já era esperado que o time tivesse um encaixe melhor – apontou a comentarista.
Para Camila Carelli, as mudanças hoje vêm fazendo com que a equipe diminua seu nível de competititvidade.
– A maior dificuldade hoje do Abel é fazer com que esse elenco rode, que possa trocar algumas peças, mas que possa ter um elenco capaz de rodar, fazer algumas alterações de jogo pra jogo e ter criatividade ofensiva – disse Camila.
Opções de Abel
Abel Braga vêm sendo bastante criticado e cobrado pela torcida por conta das atuações da equipe. Na partida contra o Unión Santa Fe, inclusive, a equipe caiu de produção após Fred entrar na vaga de Caio Paulista (que estava atuando como ala-direito), no segundo tempo, e atuar ao lado de Cano. Com a alteração, o Flu ficou sem ter alguém na direita como válvula de escape e na cobertura para Nino na defesa.
– Nitidamente faltam opções táticas ao Fluminense, estratégias dentro do jogo que façam com que o time seja mais criativo. As opções do Abel às vezes não favorecem isso. Seja por jogar com um time às vezes muito recuado, seja porque o time se movimenta muito pouco, mesmo que tenham ali uma estrutura tática pra iniciar a partida – afirmou Camila.
Afinal de contas, o Fluminense de 2022 pretende mostrar sua força jogando pelos lados, ficando com a bola ou saindo em velocidade no contra-ataque? Para Renata Mendonça, o time de Abel Braga ainda não tem uma característica, uma “cara” definida.
– Em algumas situações, a sensação é que o time fica sem criatividade no meio, porque a escalação traz três jogadores que não têm características de armar o time por ali. Ainda não dá pra dizer qual é a característica desse Fluminense, se é um time que aposta na transição rápida para o ataque, se gosta de ficar mais com a bola, se prefere ser forte na marcação e sair no contra-ataque, se é mais eficiente pelos lados ou pelo meio. É uma incógnita – declarou Renata.
Falta de tempo para treinar
O calendário apertado não impacta somente no desgaste físico e os possíveis desfalques, mas tanbém na falta de tempo para treinos. Com uma sequência intensa de jogos dois jogos por semana e viagens, o técnico abel Braga não tem tempo suficiente para fazer ajustes nos treinamentos, o que acaba impactando na maneira com o time se apresenta.
– Falta movimentação aos jogadores, entrosamento. Isso se ganha com treinamento, o que Abel também não tem muito tempo pra fazer. Mas enfim, acho que tem um percentual aí de falta de treinamento – disse Camila.