Salve(m) o Cariocão!

Foi em 1969 que o “namoro” de um menino que ainda descobria o mundo do futebol tornou-se uma paixão que o acompanharia até os dias de hoje. Ao gritar “CAMPEÃO”, com sua voz tímida e baixa, no Maracanã, na vitória contra o clube da Gávea por 3×2, conquistando o título carioca daquele ano, seu sangue tornou-se irremediavelmente verde, branco e grená, contrariando todos os dogmas da Medicina, e cristalizou-se a realidade de seu desejo: “sou Fluminense Futebol Clube!”

A conquista da Taça de Prata, em 1970, trouxe a confirmação de ter feito a escolha certa, mas a paixão transformou-se em amor eterno com a sequência de títulos no Campeonato Carioca, na década de 70: 1971, 1973, 1975 e 1976 (a inesquecível “Máquina”); o melhor de tudo, porém, eram as vitórias contra os rivais tradicionais: que bom ganhar do
então “Selefogo”, em 1971, com um gol aos 42 minutos do 2º tempo. Falta no goleiro deles? Nem pensar! É nosso título! Que maravilha voltar a derrotar nosso arqui-rival da Gávea numa quarta-feira chuvosa, em 1973, por 4×2, com o carismático Manfrini fazendo dois gols e nos levando a nova conquista!

Falar da “máquina” é covardia: o time montado em 1975 nos deu um bi-campeonato com Rivelino & Cia; era nítido o nervosismo dos outros times quando nos enfrentavam. Ainda vieram, na década de 80, os campeonatos de 1980, numa final eletrizante contra o time da Colina e o maravilhoso tri-campeonato de 1983/84/85, “recheado” com um título brasileiro em 1984. Ganhar títulos era maravilhoso mas, em cima dos arqui-rivais, não tinha preço!

E as segundas-feiras daquele menino, agora já adolescente, passaram a ser o melhor dia da semana: o reencontro com os amigos no colégio, a “zoação” em cima dos que torciam pelos derrotados e o sentimento de orgulho, acompanhado de um sorriso que não saía de seu rosto. Até as provas pareciam mais fáceis!

Todo este misto de relato/recordações foi colocado para tornar clara minha tristeza com o esvaziamento e desvalorização de um Campeonato que, por anos a fio, nos encheu de alegrias e colaborou, sobremaneira, para tornar nossa torcida cada vez maior. É muito penoso ler e ouvir, nesses tempos digitais e de youtubers, que “o Carioca acabou”, que “só serve de preparação para o Brasileirão ou competições sul-americanas”. Não!!! Foi por pensar assim que, renegando nosso passado histórico de conquistas, fomos ultrapassados em número de títulos, que
era nossa primazia desde 1906; foi pensando assim que viramos alvo de gozações dos torcedores dos times do Bairro, Colina e Gávea. Aquelas segundas-feiras felizes tornaram-se o pior dos pesadelos para nós, tricolores, pois que as conquistas foram se espassando, os títulos minguando e aquele gosto especial de vitória sendo esquecido.

Urge recuperarmos a importância do nosso campeonato local, agora em âmbito estadual; queremos voltar a brincar com os colegas de trabalho, azucrinar o “chefe mulambo” e tornar a sentir aquela superioridade que sempre permeou o espírito de nossa torcida.

“Salve o Cariocão”… – seja bem vindo;
“Salvem o Cariocão”… – voltem a dar valor ao campeonato mais charmoso do país.

Um time que vence a primeira disputa do ano, tradicionalmente de âmbito local, já mostra, no mínimo, uma estrutura montada para encarar as demais competições (sem dúvida bem mais difíceis) que estarão por vir ao longo do ano. O primeiro passo já terá sido dado e preencher possíveis carências de posições tornar-se-á mais fácil: ganham os dirigentes, o time e a torcida. Afinal, como escreveu o nosso poeta maior, Nélson Rodrigues:
“Se quereis saber o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado. A história tricolor traduz a predestinação para a glória.”

P.S. Não poderia encerrar esta primeira coluna sem agradecer ao idealizador do canal (e agora também site) “Sentimento Tricolor”. O comandante André Luiz foi um “irmão de alma” com que a vida me presenteou, poucos meses depois da perda de meu amado pai, ex-jogador do Fluminense, em abril de 2020: com ele eu assistia aos jogos do nosso tricolor, discutia jogadas, jogadores e resultados. Essa ausência tornou-se uma lacuna em minha vida, só preenchida quando descobri o “Sentimento Tricolor”, conduzido por um youtuber “torcedor-raiz”: passei a
acompanhar o trabalho de André, sempre marcado pela honestidade, correção e coerência, tornando-me seu fã, membro do canal e agora, por um ato magnânimo dele, seu “Diretor de Inteligência e Segurança”.

O canal cresceu e o caminho natural deste “foguete” é subir cada vez mais: os 100k de inscritos estão logo ali e a sua consagração como maior youtuber do Fluminense será uma questão de pouco tempo. Meu irmão André: que Deus lhe dê SEMPRE muita saúde, extensiva a toda sua linda família e que possamos juntos (membros, inscritos e torcedores) continuar nesta estrada onde, com certeza, não haverá limites, pois que é percorrida com seu trabalho feito com muita paixão e inteiramente dedicado à nossa torcida e ao nosso amado Fluminense.

Valeu!!!!

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andre.luiz
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3 comentários

  1. Passei por esse Portal aberto pela sua magnânima coluna e peço: deixe-me, por favor, ficar por lá até depois de terminada sua leitura. É uma viagem que quem a fez nunca se esqueçe e que , por mais que se fale, somente os felizardos como nós sabemos entender além do que foi vivido. Muito OBRIGADO, Paulo Soares.

  2. Paulo é impressionante o quanto seu belo texto retrata momentos que foram também vividos por mim! Obrigado por nos proprocionar tão agradável leitura. Parabéns! E salvem o Carioca, o livrando das garras da nefasta FERJ!

  3. Meu diretor: O texto é revitalizador e sem retoques. A frase que me vem a cabeça ao ler essa preciosidade : ” Recordar é Viver Assis acabou com Vocês ”

    Abraços e ST !

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