Como dívidas de quase R$ 100 milhões a curto prazo levaram o Fluminense a vender Luiz Henrique

Montante já gerou atrasos salariais e há o risco de proibição de contratação e até mesmo a perda de pontos no Brasileiro caso obrigações não sejam quitadas

O presidente Mário Bittencourt classificou a negociação de Luiz Henrique com o Betis-ESP como uma “medida impopular” visando a “reestruturação” do Fluminense. Não mentiu. Mas apesar da reação negativa do torcedor, entender as dívidas a curto prazo do Fluminense são caminhos difíceis, mas necessários. A encaminhada saída por até 13 milhões de euros (cerca de R$ 73 milhões) é tratada como o gancho que fará o clube não se asfixiar de imediato.

A lógica para a venda de Luiz Henrique, além de financeira, também é matemática. Até agosto de 2022, quando fecha a janela de transferência do meio do ano, o Fluminense terá que pagar R$ 97,5 milhões apenas em dívidas parceladas que O GLOBO teve acesso e traz detalhes. Entre outros motivos, isso explica por que o tricolor não pôde esperar mais para vender o atacante.

Problemas na Fifa

Um dos problemas são as dívidas internacionais que vencem nas próximas semanas: as compras de Junior Sornoza e Jefferson Orejuela, em 2016, na gestão Peter Siemsen, junto ao Independiente del Valle-EQU. Em março, R$ 3 milhões terão que ser desembolsados pelo Fluminense. Já em maio e junho, o valor aumentará para R$ 5 milhões. Devido a esta conta em aberto, há o risco de proibição de realizar contratações e até mesmo a possibilidade de perda de pontos no Campeonato Brasileiro.

Regime de Centralização e Profut

O Fluminense também entrou no Regime de Centralização de Execuções, que foi obtido tanto na Justiça do Trabalho quanto na Cível. Os pagamentos começam em abril e estão orçados em R$ 1,5 milhão por mês. Caso não mantenha a regularidade de pagamento, poderá voltar a ter as suas receitas asfixiadas com penhoras como antes. Já no Profut, as parcelas são de R$ 2 milhões mensais.

Salários atrasados e Maracanã

Aliado a isso, os salários do mês de fevereiro estão atrasados e os de março estão por vencer, algo em torno de R$ 9 milhões — além da folha do elenco, soma-se funcionários e prestadores de serviço — além de parcelas do 13º. O clube também irá participar da licitação do Maracanã e terá que fazer entrada de um alto valor ainda a ser definido. Estima-se algo entre R$ 3 e R$ 6 milhões.

Somando todos esses parcelamentos de março até agosto, o valor é de R$ 97,5 milhões a serem pagos pelo Fluminense apenas em dívidas de curto prazo. Em linhas gerais, os R$ 73 milhões de Luiz Henrique ajudam, mas não completam o pagamento. Ainda sim, a curto prazo, servem para não atrasar salários e cumprir obrigações judiciais.

O restante do valor será obtido com outras receitas, como renda de seus jogos e aumento do sócio-torcedor.

Cota comprometida

Para o Brasileirão, o tricolor tem mais um problema. No total, 50% da cota fixa de televisão já está comprometida com o pagamento de dívidas antigas com o Banco BMG, vinda de gestões passadas. Do total de R$ 48 milhões cobrados pelo banco, R$ 30 milhões já foram quitados. Devido à rescisão contratual do Campeonato Carioca, o clube também não conta com receitas televisas nos primeiros quatro meses do ano.

Luiz Henrique está trocando o Fluminense pelo Betis-ESP Foto: Lucas Merçon/Fluminense
Luiz Henrique está trocando o Fluminense pelo Betis-ESP Foto: Lucas Merçon/Fluminense

 

Mas, se a situação está tão difícil, porque há uma previsão de R$ 100 milhões em vendas de atletas para 2022? Porque desde que Mário Bittencourt assumiu a presidência, o clube lucrou R$ 250 milhões com a saída de jogadores. Ou seja, o previsto para esta temporada é um valor menor do que a média anual da gestão.

Vale lembrar também que o Luiz Henrique não era a bola da vez para ser vendido nesta temporada. Antes, estavam praticamente acertadas as saídas do zagueiro Nino, para o Tigres-MEX, que melou devido a um impasse com o Criciúma, que detém parte dos direitos do atleta, e a do atacante Gabriel Teixeira, que não foi para o Al-Wasl-EAU por ser reprovado nos exames médicos.

Além dos R$ 73 milhões, o Fluminense aposta nos 15% do valor de revenda do atleta. Se o Bétis vendê-lo por 100 milhões de euros, 15 milhões entrarão nos cofres do clube.

 

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andre.luiz
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2 comentários

  1. Jogador, obrigado por trazer essa matéria e tbm explicar em video.

    Realmente a situação é critica, quando parecia que estávamos vendo a luz no fim do tunel, era só mais um trem vindo em nossa direção.

    Complicado.

    Precisamos muito novamente ter boas premiações como ano passado, para não precisarmos vender desesperadamente os nossos jogadores.

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