Tricolor tem 12 triunfos atualmente e pode igualar recorde neste sábado, diante do Boavista. Sequência de 13 obtida há 103 anos veio antes da era do profissionalismo
O Fluminense está a uma vitória de fazer história: se vencer o Boavista, no próximo sábado, em Saquarema, chegará a 13 triunfos consecutivos e igualará a maior sequência do clube em jogos oficiais. Isso significa igualar um recorde que perdura desde 1919, quando o futebol ainda não tinha entrado na era do profissionalismo. Ou seja, 103 anos depois, é a chance de Abel Braga e companhia escreverem seus nomes na história.
Mas como o Fluminense conseguiu alcançar este feito em uma época tão distante? O GLOBO mergulhou nos arquivos e conta alguns capítulos curiosos desta trajetória, que teve o atacante inglês Henry Welfare marcando 49 gols em 40 partidas naquele ano, o goleiro Marcos Carneiro de Mendonça se tornando herói e até mesmo a presença do Presidente da República para ver a taça ser erguida em Laranjeiras.
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Tentativa de anulação
Antes, é preciso contextualizar: o Fluminense conquistou seu 8º título carioca e recebendo definitivamente a Taça Colombo, destinada ao primeiro clube que conquistasse o campeonato por três edições consecutivas — o título de 1907 do Botafogo ficaria sub-judice durante décadas. A base do time era formada por Marcos, Vidal e Chico Netto; Lais, Osvaldo e Fortes; Mano, Zezé, Welfare, Machado e Bacchi e a série de 13 vitórias seguidas teve histórias curiosas.
Na primeira delas, no dia 7 de setembro de 1919, o Fluminense venceu o América por 3 a 2, no Estádios Campos Salles. Mas o apito final só foi dado pela Liga Metropolitana de Sports Athleticos (LMSA), uma espécie de entidade criada pelos clubes da cidade do Rio de Janeiro para organizar o Campeonato Carioca. Tudo devido a uma marcação polêmica.
Já no segundo tempo da partida, o árbitro Plínio Ribeiro de Castro assinalou pênalti para o América alegando toque de mão de Laís, defensor do Fluminense. Mas acabou voltando atrás após ouvir o bandeira, Carregal, que orientou que fosse dado bola ao chão. Curiosamente, Plínio e Carregal eram jogadores do Flamengo na época.
A atitude revoltou o América, que entrou na Justiça e até conseguiu a anulação premilinar da partida, mas a LMSA indeferiu o pleito e manteve o resultado.
Registro de Fluminense x Bangu de 1919 Foto: Reprodução
‘Abandono’ do Botafogo
Já em 23 de novembro de 1919, o Fluminense golearia o Botafogo por 5 a 2 no Estádio General Severiano e veria o rival tentar abandonar o campo de jogo. Na ocasião, segundo os jornais da época conta que “não concordando com a atuação da arbitragem após o quarto gol do Fluminense, o Botafogo passou a não se defender e chegou ao cúmulo de trocar passes com os próprios adversários em forma de protesto”.
Também há relatos que os torcedores do Botafogo chegaram a “achincalhar” os atletas, não concordando com a atitude. Pouco depois, os jogadores alvinegros tentaram abandonar a partida, mas foram impedidos pela diretoria do Botafogo, que os convenceram a voltar a campo. O Fluminense ainda faria o quinto gol para fechar a partida.
Jogo do título faz morro virar arquibancada
O Fluminense viria a conquistar o Campeonato Carioca no dia 21 de dezembro de 1919, no Estádio das Laranjeiras, com direito a goleada de 4 a 0 sobre o Flamengo. E para assistir à final, esteve presente o Presidente da República, Epitácio Pessoa. Devido a sua presença, a venda de ingressos chegou a ser suspensa, o que transformou o morro ao redor do estádio uma arquibancada.
Segundo os jornais da época, estimasse que cerca de cinco mil torcedores que estavam do lado de fora e não conseguiram comprar ingressos utilizaram deste artifício para ver a final. É registrado que 20 mil pessoas estiveram presentes nas arquibancadas, enquanto cinco mil ficaram na área de sociais. Após o título, foram disparados 21 tiros de canhões para oficializar o tricolor como tricampeão “do Distrito Federal”.
Dono da Taça Colombo
No primeiro jogo após o título, o Fluminense goleou o América por 4 a 1 em 28 de dezembro, nas Laranjeiras, e foi presenteado com medalhas de bronze de seus sócios pela conquista da Taça Colombo. Na ocasião, marcaria a primeira vez que um clube teria posse total do troféu, já que se tornaria o primeiro tricampeão do Estado — vale lembrar que o Carioca de 1907, do Botafogo, permanece sub-judice por décadas.
O título também marcaria o primeiro título conquistado pelo Fluminense nas Laranjeiras, já que o Estádio foi inaugurado em maio daquele ano. Na época, foi o primeiro estádio construído no Brasil para grandes espetáculos, com capacidade para 18 mil espectadores, sendo o maior da América do Sul.
Recordes de renda
Nesta sequência de 13 vitórias consecutivas do Fluminense, alguns jogos beneficiaram até mesmo os rivais, que marcaram recorde de púbico e renda em seus jogos naquele Campeonato Carioca. Veja a lista:
- Flamengo 1×3 Fluminense: este jogo marcaria a maior renda do Flamengo como mandante no torneio.
- Andarahy 0x6 Fluminense: deu lucro ao Andarahy superior a todos os seus outros jogos somados.
- Vila Isabel 1×2 Fluminense: recorde para o Vila Isabel, com direito a uma briga entre torcedores que foi ironizada pelo jornal ‘O Imparcial’.
Em sua história, o Fluminense já conseguiu uma incrível série de 21 vitórias consecutivas, em 1959, com a equipe treinada por Zezé Moreira e que contava com nomes como Castilho, Waldo, Pinheiro, Telê e Escurinho. No entanto, a sequência, que até hoje é a segunda maior do futebol brasileiro em todos os tempos, inclui partidas amistosas.
Confira todas as 13 vitórias da série de 1919:
Fluminense 4 x 0 Bangu (17/08/1919)
Flamengo 1 x 3 Fluminense (24/08/1919)
Andarahy 0 x 6 Fluminense (31/08/1919)
America-RJ 2 x 3 Fluminense (09/09/1919)
Fluminense 5 x 1 Carioca (05/10/1919)
Fluminense 3 x 1 Mangueira (26/10/1919)
Bangu 2 x 3 Fluminense (09/11/1919)
Vila Isabel 1 x 2 Fluminense (16/11/1919)
Botafogo 2 x 5 Fluminense (23/11/1919)
Fluminense 4 x 3 São Cristóvão (30/11/1919)
Fluminense 4 x 2 Andarahy (14/12/1919)
Fluminense 4 x 0 Flamengo (21/12/1919)
Fluminense 4 x 1 America-RJ (28/12/1919)
Texto escrito pelo jornalista Marcello Neves no jornal o globo
Uma delícia ler essa história
O Welfare veio a ser técnico do Vasco por vários anos…