Marcos Felipe ou Fábio? Preparador de goleiros do Fluminense espalma pressão e afirma: “Todos vão jogar”

Matéria publicada no GE por Thiago Lima

Incumbido por Abel Braga por decidir o titular do gol tricolor, André Carvalho exalta personalidade de Marcos Felipe, diz que Fábio precisa “ser estudado pela Nasa” e promete: “Vamos ser justos”

Se tem uma pergunta que Abel Braga já chega com as palavras na ponta da língua nas entrevistas coletivas é essa: quem vai ser o goleiro titular do Fluminense? Mas não se engane, a resposta não é nem Marcos Felipe ou tampouco Fábio, e sim um outro nome: André Carvalho.

Depois da boa estreia de Fábio contra o Audax e da grande atuação de Marcos Felipe no Fla-Flu, o preparador de goleiros do Fluminense foi encarregado publicamente por Abel para tomar sempre a decisão de quem vai jogar no gol tricolor. Que “responsa”, hein? Mas ele mata no peit… Quer dizer, espalma para longe a pressão e bancou o camisa 1 nos últimos dois clássicos.

– A pressão existe sempre quando se trabalha com futebol, que é paixão. E a gente é pago para isso, para performar, tomar decisão, e às vezes tomar porrada também quando as coisas não dão certo. Precisa ter equilíbrio e ser correto. O Abel é muito transparente e sincero e deixa a gente à vontade. O que a gente falar, ele acredita e vai até o final. E agora temos dois fenômenos, o que para mim é muito gratificante para trabalhar. O Marcos Felipe e o Fábio estão prontos para jogar, assim como o Muriel e o Pedro Rangel, que tem muita projeção. E os que virão da base também, nessa integração que a gente faz. O Fluminense está bem servido de goleiros – disse André em entrevista exclusiva ao ge.

O preparador fala com a bagagem de quem está há quase 15 anos no clube, sendo nove a serviço do profissional. Embora Abel tenha delegado publicamente a tarefa para o treinador de goleiros, já era assim com outros técnicos que passaram pelas Laranjeiras, só que o assunto ficava interno. Em 2019, por exemplo, com o time em crise e na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro, foi André que apostou em Marcos Felipe, então com só 23 anos, para assumir a meta tricolor no final da temporada após a lesão de Muriel, e deu certo.

Após passar pelo mirim e pelos juniores do Fluminense, o preparador subiu para o profissional na comissão técnica de Vanderlei Luxemburgo em 2013, com o desafio de manter a regularidade de Diego Cavalieri. Nos anos seguintes, teve a missão de resgatar goleiros que chegaram em baixa ao clube, como Júlio César e Muriel, e ambos se firmaram como titular, cada um em sua época. Agora, o martelo entre Fábio e Marcos Felipe será batido por André, com a ajuda dos também preparadores Josmiro de Goes e Leonardo Signorelli. E ele prometeu: ambos irão jogar.

– Vamos ser justos não só com o Marcos Felipe, mas também com o Fábio, que veio para jogar e vai ter a oportunidade dele também. Tem várias competições, Libertadores, Copa do Brasil… É uma disputa muito sadia. Não estou em cima do muro, todos vão jogar. O Marcos Felipe, pelo trabalho que vem fazendo, hoje é o titular. Não posso cravar o futuro, vamos ver os resultados de todos. A gente é justo. O dia a dia dos dois é muito bom, estou encantado. Assim como estava na época que tínhamos o Cavalieri e o Júlio César, que era só jogar a camisa para o alto (risos).

O preparador tem longa relação com Marcos Felipe, que acabou de completar 100 jogos no Fluminense. Curiosamente, foi ele quem federou o goleiro, levado para ser avaliado em Xerém pelo hoje diretor das categorias de base do clube, Antônio Garcia. Companheiros desde o mirim, André exaltou a personalidade do camisa 1 para agarrar as oportunidades e não se abater com os erros:

– O Marcos Felipe vinha em uma sequência muito boa, foi decisivo em 2019, quando eu tive a escolha junto da comissão, o Marcão me deu essa autonomia. Tinha um cara experiente que era o Agenor e o Marcos Felipe, e ele segurou a onda quando o Fluminense estava na zona. Em 2020 a mesma coisa, quando o Muriel teve Covid-19. E 2021 não vem ao caso, pois ele ficou o ano todo titular e performou muito. Lógico que ficou marcado por aquela decisão contra o Flamengo, mas mostrou muita personalidade.

– Nessas horas vejo quando o atleta vai vingar. Foi a primeira falha dele, justamente em uma decisão, e logo depois veio o jogo do River Plate no Monumental. Eu estava aquecendo ele, vi o semblante e pensei: “Esse vai virar goleiro, está muito frio, concentrado”. E ele foi bem demais. Virou goleiro. Eu conheço um goleiro depois da falha. Ali, vejo se é frio, se tem a concentração em alto nível. Às vezes um bom goleiro chega na hora do sufoco e…

O recém-chegado Fábio tem menos de um mês de trabalho no Fluminense, mas já foi o suficiente para encantar André. Para o preparador, o goleiro de 41 anos precisa ser estudado pela Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, na sigla em inglês):

– Chegou um cara gigantesco que é o Fábio, e isso vai ser bom para todos. Ele tem 41 anos, mas fiquei encantado que faz o mesmo trabalho do Marcos Felipe, que tem 25. Esse cara precisa ser estudado pela Nasa (risos). Além de um caráter diferenciado, está sempre dando conselhos aos mais novos, a energia dele é muito boa. Viu o abraço que ele deu no Marcos Felipe após o Fla-Flu? Isso contagia. Fábio é um cara que ganhou tudo como atleta, é uma referência para todos nós e vai agregar muito.

Nessa acirrada disputa pela titularidade, um fator que pesa a favor de Fábio na visão da torcida é seu histórico nas penalidades máximas. André admitiu que ele e Marcos Felipe estão com um “saldo devedor” na marca da cal, mas disse que o goleiro era pegador de pênaltis na base e lembrou da conquista da Al Kass Cup, no Catar, sobre o Paris Saint-Germain, da França, em 2013. O preparador acredita que a chegada de Fábio também será importante para o camisa 1 nesse quesito.

– Assim que ele começou no futebol fazia muito pênalti, e a gente lapidou. Na reposição também, a gente lapidou. Hoje tem essa questão dos pênaltis. Tem o estudo da análise de desempenho, passa tudo para a gente, mas é de momento. É muito “feeling”, e às vezes está ansioso e define antes (o lado). Nessa questão ele é muito rotulado, mas sempre foi pegador de pênaltis na base. Ele foi campeão mundial sub-17 pegando pênalti contra o PSG em 2013.

– No profissional ele teve uma sequência pesada, de uns 15 pênaltis direto no tempo normal dos jogos, quando o melhor cobrador do adversário bate. Não teve nenhuma decisão por pênaltis, que geralmente é onde o goleiro se consagra. Ele está com saldo devedor nos pênaltis, e somos cobrados para isso. Estamos trabalhando, treinando, estudando… Agora com essa lenda (Fábio) chegando, vai ficar mais fácil até para o Marcos Felipe – encerrou.

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andre.luiz
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2 comentários

  1. ST! Muito maneira a entrevista, eu, particularmente, não sabia que nosso preparador era tão antigo no clube, ele pode compartilhar da evolução do atleta. Imagina uma entrevista com outros personagens que estão faz um bom tempo no clube? Quantas histórias alegres e comoventes temos guardadas por ali. Valeu pelas informações! 🇭🇺

  2. Marcos Felipe ou Fábio? Na minha opinião tanto faz, pois os dois são excelentes goleiros, sendo um em evolução e outro já consagrado. Quem ganha essa disputa é o Fluminense, que agora tem dois goleiros de respeito de baixo das traves.

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