Fred faz balanço da carreira e reforça amor pelo Fluminense: ”Vou dar minha vida até o último minuto”

Atacante tem pouco mais de três meses pela frente antes de se aposentar no clube em que fez história

Faltam pouco mais de três meses para o fim da carreira profissional de Fred. O atacante que fez história com a camisa 9 do Fluminense e disputou duas Copas do Mundo vai se aposentar no próximo dia 21 de julho, data do fim de seu contrato e aniversário de 120 anos do Tricolor. Mas antes do adeus ele recebeu a equipe do Esporte Espetacular para uma entrevista especial.

Em um bate-papo com o repórter Régis Rösing, com quem dividiu diversos momentos de sua carreira profissional, Fred fez um balanço dos mais de 20 anos como jogador, confirmou que não vai renovar seu vínculo com o clube e reforçou o amor pelo Fluminense.

– Eu consigo enxergar o tamanho que eles me fizeram, mas acho que não sou merecedor de tudo que me dão. Amo vocês e vou dar minha vida até o último minuto – disse o capitão.

Fred atendeu o Esporte Espetacular no CT do Fluminense — Foto: Edgard Maciel de Sá

Fred atendeu o Esporte Espetacular no CT do Fluminense — Foto: Edgard Maciel de Sá

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O QUE PASSA NA CABEÇA NESSE MOMENTO?

– Antes da final do Carioca eu me pressionava muito. Teve a eliminação na Libertadores e só nos restou o Carioca nesse momento. Era um título que a gente não conseguia há 10 anos. Com essa sobrecarga eu não estava conseguindo curtir tanto. Agora quero desfrutar de cada treino, de cada conversa, contato com a torcida. Sei que está acabando e quero aproveitar o máximo esses instantes finais para no futuro eu estar em casa de alma lavada sabendo que eu curti cada momento desses mais de 20 anos.

NÃO TEM CHANCE DE RENOVAR ATÉ O FIM DO ANO?

– Lá no início, quando o presidente me ligou, ele falou: ”Fred, a gente quer repatriar o ídolo, faz parte da reconstrução do clube”. Perguntou se eu tinha interesse. Eu estava na minha fazenda há quatro meses, morando lá, decidido a encerrar a carreira. Ai veio esse convite do presidente Mário. Para mim foi especial. Ele sugeriu dois anos e meio de contrato pra encerrar numa data simbólica do aniversário de 120 anos do clube. Meu olho brilhou, comecei a imaginar a despedida com o Maracanã lotado ao lado do torcedor.

”A maior decepção da minha vida seria encerrar minha carreira sem ser no Fluminense”.

 

– Graças a Deus veio esse convite de poder sentir novamente essa convivência, o carinho do torcedor. Eles fizeram muito por mim. Quando eu cheguei e me vi fazendo parte dessa reconstrução… Já peguei aqui muita bagunça interna, falta de estrutura, salário atrasado. Quando cheguei e vi tudo isso, me deu um ânimo. Graças a Deus conseguimos jogar duas Libertadores, conseguimos fazer bons Campeonatos Brasileiros, ajudar nessa reconstrução… Me lembro que quando cheguei alguns jogadores não queriam vir para o Fluminense. E hoje é diferente, tenho amigos em outros clubes que falam ”me leva, vê se tem o interesse”. Todo esse plano, eu olho para trás agora e vejo que o momento do fim mais especial mesmo seria nessa data de 21 de julho.

Antes de encerrar a carreira, Fred conquistou seu primeiro título pelo Fluminense no Maracanã — Foto: Leonardo Brasil/Fluminense

Antes de encerrar a carreira, Fred conquistou seu primeiro título pelo Fluminense no Maracanã — Foto: Leonardo Brasil/Fluminense

– Avançar até o fim de ano seria maravilhoso, mas me preparei tanto para esse momento de encerrar, vou encerrar com meu coração cheio de gratidão a esse clube que formou meu caráter como homem, me fez capitão, líder, humano. Mostrou que quando alguém estiver lá embaixo, sofrendo, você pode dar a mão e erguer. Passei isso numa Copa e esse clube me reergueu, quando todos falaram que eu tinha acabado. Chegou o momento, dia 21 de julho eu encerro minha carreira, já está determinado. Mesmo com a sequência do Brasileirão, da Sul-Americana… Hoje a minha cabeça é cumprir esse planejamento. Já tenho tudo planejado com meus filhos, quero levar eles na escola, jogar vôlei com minha esposa, curtir a família…

ESTÁ PREPARADO PSICOLÓGICAMENTE PARA O ADEUS?

– Acho que me preparei bem e estou preparando também o pós-carreira. Ainda não decidi o que pretendo ser, mas tenho feito alguns cursos para já começar uma nova carreira no futebol. Estou fazendo curso de gestor, vou fazer de treinador esse ano ainda. São coisas que vão estar correndo no meu sangue… Aquela adrenalina de competitividade. Como a nossa vida é cíclica, acho que estou muito satisfeito com o que Deus me deu como jogador, muito mais do que eu merecia ou esperava. Estou encerrando tranquilo. Lógico que vou sentir saudade, fico muito ansioso quando estou fora de campo, mas vou ter que me habituar.

TEM NOÇÃO DO SEU TAMANHO NA HISTÓRIA DO FLUMINENSE?

– Quando o Mário me ligou, ele falou: ”Quero te trazer porque temos que ter ídolos nas Laranjeiras”. Eu tinha saído, lógico que sentia o carinho da torcida mesmo quando estava fora, sempre comentava, arrumei problemas para mim quando estava em outros clubes e dizia que queria voltar para o Fluminense. Eu consegui ver mais isso no meu retorno, na Libertadores do ano passado, nesse título agora do Carioca.

”Eu não consigo me acostumar com esse carinho. Mas acho que por tudo que eu recebo, me sinto na obrigação de agir como um torcedor em campo. Eu consigo enxergar o tamanho que eles me fizeram, mas acho que não sou merecedor de tudo que me dão. Amo vocês e vou dar minha vida até o último minuto”.

 

Tudo é um processo de maturidade. Só vamos estar 100% satisfeitos no céu. Aqui estaremos aprendendo e errando. Eu tive muitas tretas em campo e fora, discussão de jogo, nada pessoal. Mas que se desse para respirar um pouco mais e evitar… Mas não me arrependo não, foi tudo defendendo a camisa do Fluminense, os interesses do clube. Quando passa eu falo ”nossa, me exaltei demais”. Me ajudou nos processos. Já briguei com imprensa, jogador, treinador, diretoria, torcida… Se eu pudesse escolher algo, eu seria mais sereno. Mas você está competindo, todo mundo querendo ganhar, levantar a taça no seu lugar. É um ambiente de matar ou morrer no bom sentido. Não tenho arrependimento. Talvez queria um pouco mais de equilíbrio. Tudo faz parte do processo e também existem coisas boas nas coisas ruins. Saio muito satisfeito por tudo que passei na minha carreira, pelos erros, pelos tropeços, eles me ensinaram a ser mais humilde, não tacar pedra quando alguém errar. É um processo de evolução que me ajudou demais.

Fred foi contratado pelo Fluminense em março de 2009, saiu em 2016 e voltou em 2020 — Foto: TV Globo

Fred foi contratado pelo Fluminense em março de 2009, saiu em 2016 e voltou em 2020 — Foto: TV Globo

Eu só sai do Fluminense porque Deus quis. Tiveram pessoas que me tiraram, mas foi assim que Deus quis. Se tivesse essa estabilidade, a segurança, o respaldo de hoje, com certeza eu não teria saído. Ai eu fico pensando, fiquei uns quatro anos fora, fiz vários gols por outros clubes, imagina se eu tivesse ficado? Teria marcas ainda melhores, será que teria mais títulos? Mas talvez se eu tivesse ficado, eu não teria tanta noção de como o Fluminense é necessário na minha vida e talvez o torcedor não tivesse o tamanho do carinho que tem por mim hoje.

ABEL BRAGA

O Abelão é um cara fantástico. O relacionamento dele com os atletas é fora da curva. Jogam apenas 11 titulares e não temos qualquer problema. Sempre muito reto, sincero, olhando no olho, cobrando. E quando o bicho pega ele abraça a gente. Tem todas as qualidades de um líder. Todo grupo precisa de um líder forte. Tem a cara do Fluminense, tem história aqui dentro. Desde quando chegou só tem nos ajudado.

PASSAGEM DE BASTÃO PARA O CANO

O Cano desde que chegou é um jogador muito perseverante. Sempre trabalhou em silêncio, dando a vida, muita qualidade na finalização. Está vivendo um momento maravilhoso. Foi muito bem recebido desde que chegou, sempre soubemos da qualidade dele. Tem tudo para virar um grande ídolo da torcida, já caiu nas graças. Assim como o Conca fez história, tenho certeza que o Cano também fará. Faz o L (risos).

Fred vai se aposentar, mas já tem um substituto que caiu nas graças da torcida: Germán Cano — Foto: Divulgação / Fluminense FC

Fred vai se aposentar, mas já tem um substituto que caiu nas graças da torcida: Germán Cano — Foto: Divulgação / Fluminense FC

TÍTULO NO MARACANÃ FECHA COM CHAVE DE OURO?

Não foi nem só expectativa e merecimento meu e da torcida, a gente viver isso no Maracanã… Nós do Fluminense, a gente merecia. Peguei vários processos no clube, eu como tricolor, para mim é um honra grande. Peguei mais de 20 meses de salário atrasado, perdia dois jogos e tinha uma crise política grande. E hoje a gente vê tudo blindado. Hoje temos uma comissão técnica fixa com o Marcão, o Marquinhos Seixas, o Juliano na fisiologia, o Filé na fisioterapia. A estrutura, não só física, mas de profissionais… Quem merecia era o Fluminense. Estava amadurecendo. E graças a Deus, sou um privilegiado de fazer parte desse Fluminense que está se reestruturando. Tive a honra de erguer essa taça com a torcida no Maracanã. Estou muito feliz por tudo o que está acontecendo no clube. Doía no meu coração ver jogadores saindo para clubes menores, que não tem a grandeza ou a visibilidade do Fluminense. E hoje a gente vê o Felipe Melo querendo vir, Willian Bigode, Fábio… Fora outros jogadores que ligam. Peguei a época que ninguém queria vir e estou vivendo essa fase atual. Sou muito grato a Deus. Fico muito feliz e honrado de ter conseguido esse último título que foi muito especial para mim.

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andre.luiz
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